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Transcrição de textos manuscritos por comando de voz no Google Docs

Captura de tela da página inicial do Google Docs.

Desde que comecei minha jornada como revisor de textos em 2014, ainda no primeiro ano da faculdade de Letras (FAFIRE) e motivado pelo meu amigo Ithalo Câmara, de vez em quando, alguém me procura por e-mail ou WhatsApp com fotografias de textos manuscritos. De fato, ainda há muitas pessoas que não alcançaram o letramento digital e as universidades nem sempre nos preparam nesse sentido. Às vezes, contudo, o estudante universitário também está com problemas de acesso a um computador, por isso recorre a alguém que possa transcrever e depois revisar. Casos e casos, é um serviço a mais prestado e que deve ser orçamentado adequadamente.

Confesso que, naquela época, eu abria a fotografia do texto manuscrito numa janela e o novo documento de texto em outra janela posicionando-as lado a lado, de modo que lia de um lado e digitava no outro. Esse processo tomava um tempão! Vez por outra, cheguei a pedir para uma pessoa de boa leitura ditar o texto para mim. Assim, a tarefa se tornava mais prática e o serviço era entregue em tempo hábil para o cliente. Foram várias as situações deste tipo, mas chegou o dia em que, cansado, também não tive uma voz leitora a quem recorrer.

Conhecedor de diversas ferramentas do Google depois de uma pesquisa universitária feita com Dhyanna Neves e Thayná Rocha sob a orientação da profa. Márcia Modesto,* recordei que era possível abrir um documento de texto do Google no computador e no celular ao mesmo tempo e que ambos poderiam ser sincronizados. Lembrei também que o teclado do Google no celular ou no smartphone tem a ferramenta de microfone, então eu mesmo poderia fazer a leitura dos documentos manuscritos, ao passo que o Google transcreveria para mim.

Foi a coisa mais simples que descobri e que adotei nos meus trabalhos de transcrição de textos manuscritos para digitados, mas que com certeza muitas pessoas já utilizam este recurso. Siga os passos abaixo fazendo um teste.

Configurando os dispositivos

  1. Verifique se você está utilizando o teclado do Google (Gboard) no seu celular ou tablet, pois outros teclados poderão estar disponíveis de acordo com a marca ou modelo do seu aparelho.
  2. Configure os idiomas¹ com que deseja trabalhar. No meu caso, os dois principais são o português brasileiro (PT-BR) e o inglês americano (EN-US). Também tenho outros idiomas configurados, como o latim (LA) e o iorubá (YO), mas que não os utilizo para transcrições. Para a configuração, basta pressionar e segurar a tecla espaço ou o globo ao lado da tecla espaço e alterar/adicionar o novo idioma.
  3. Verifique também se você já tem o pacote office do Google devidamente instalado no seu aparelho, principalmente o Google Docs (ou: Documentos do Google), pois é o editor de textos que irá utilizar para realizar a transcrição do texto do seu cliente. Se não encontrá-lo em seu dispositivo, baixe-o diretamente da sua loja de aplicativos.

Transcrevendo com o Google Docs

  1. Agora, com teclado configurado e editor de textos baixado, abra um novo documento de texto no celular e no computador ao mesmo tempo, isto é, simultaneamente no aplicativo Google Docs no celular e no site docs.google.com no navegador do seu computador.² Para isso, você terá que estar logado com a mesma conta Google (Gmail) em ambos os dispositivos ou ter o mesmo documento compartilhado com mais de uma conta Google.
  2. Ative o microfone do teclado e, quando aparecer a mensagem “Fale agora” (ou: “Speak now”, conforme o idioma selecionado), comece a falar. Quer dizer! A ler o texto manuscrito.
  3. Com comandos como “vírgula”, “ponto final”, “ponto e vírgula”, “abre/fecha parêntese”, “abre/fecha aspa” etc. (conforme o idioma selecionado), você terá um documento de texto do Google prontinho para baixar em vários formatos (DOCX, ODT, RTF, EPUB etc.) e posterior revisão, caso seja necessário.
  4. O seu celular/tablet é agora o seu microfone, mas, caso ocorra de o teclado não compreender algum comando ou palavra lida, você poderá editar o texto manualmente no celular ou no computador. Clicando novamente no microfone, poderá retomar a leitura.
  5. Para fazer o download do documento e até editá-lo off-line no seu pacote office convencional,³ basta acessar o menu Arquivo > Fazer download e escolher o formato desejado.

Por fim, não esqueça de que uma leitura/pronúncia inteligível ajuda a ferramenta Google a decodificar melhor o que está sendo ditado. Se o trabalho for colaborativo, clique no botão Compartilhar e envie um convite para o/a colega de trabalho por e-mail, de modo que ambos (ou a equipe) poderão atuar sobre o documento simultaneamente.

Captura de tela da resposta de Giovanna Lester ao meu tuíte. Ela diz: “Um barato, Wendell. Acabo de criar um documento (teste) trilíngue. Sempre foi melhor ditar pelo telefone que pelo computador. Valeu.”

Além de ser uma ferramenta de acessibilidade para pessoas com deficiência visual, a digitação por comando de voz torna o trabalho bem mais prático para pessoas em geral. Afinal, a acessibilidade termina por ser, em todas as instâncias, instrumento para o benefício de todos. Sem falar que não vamos mais precisar ler a imagem por uma janela e digitar em outra! ■

Notas

¹ Aqui, eu utilizo a palavra “idioma” porque é este o termo utilizado pelas ferramentas Google, mas aprecio o termo “língua” por contemplar uma maior variedade de sistemas linguísticos. ² Lembre-se de que as ferramentas Google funcionam melhor com outras ferramentas Google, então talvez você prefira usar o navegador Google Chrome. ³ Meu pacote office preferido é o LibreOffice, que utilizo como meu pacote principal desde 2017. Em breve, postarei um breve artigo comentando sobre este software livre, apresentando bons motivos para tê-lo (e usá-lo efetivamente).

* A pesquisa mencionada relacionava educação e tecnologias da informação e comunicação (TIC). Chamada Google Apps for Education e outros apps na sala de aula de inglês, obteve a aprovação do Núcleo de Pesquisa e Iniciação Científica (NUPIC) da FAFIRE, do qual tive o privilégio de ser pesquisador durante três anos consecutivos na companhia indescritível da profa. Márcia Modesto. Os artigos estão publicados no portal de publicações da FAFIRE e podem ser encontrados também no mecanismo de busca Google Acadêmico. Posteriormente, também desenvolvemos a pesquisa O software livre e a cidadania digital na escola, que também aborda educação e tecnologias, mas dessa vez com destaque para os softwares livres e de código aberto. Recentemente, revisei ambas as publicações no artigo Software livre e cidadania digital na escola pública em tempos pós-pandêmicos.


Originalmente publicado no LinkedIn, na mesma data.

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