Previnam o cachorro de latir com
suculentos ossos,
Silenciem os pianos e com tambores
abafados
Tragam o caixão, façam entrar os
enlutados.
Deixem os aviões circularem ao alto
com choro
Rabiscando no céu “Ele está Morto”.
Nas pombas fúnebres ponham gravatas em
seus pescoços brancos,
Luvas pretas de algodão deixem usar os
policiais de trânsito.
Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e
Oeste,
Minha semana de trabalho e meu domingo
cipreste,
Meu meio-dia, minha meia-noite, minha
canção e meu diálogo;
Eu pensava que o amor duraria para
sempre: mas estava errado.
As estrelas não são mais desejáveis;
apaguem uma a uma;
Desmanchem o sol, derrubem a lua,
Sequem o oceano e devastem a floresta;
Nada mais do que vier interessa.
Neste poema de versos AABB, o locutor que não é identificado (gênero
desconhecido¹) lamenta a morte de alguém muito amado (talvez um
filho, um irmão, amigo ou companheiro). Um contraste muito grande
entre o silêncio requerido e o chamado dos tambores se faz presente
na primeira estrofe: ao mesmo tempo em que se exige silêncio dos
convidados, do piano e até do cachorro, o locutor pede que seja
notório a evocação que os tambores fazem aos enlutados para que
participem da cerimônia de sepultamento do defunto.
Na segunda estrofe, Auden apresenta-nos um sujeito que faz ressoar
sua perda para toda a cidade (o mundo, diríamos) com pombas e pompas
fúnebres. Ele grita para o mundo a dor de sua perda e ilustra isso
na terceira estrofe ao assumir a representatividade que o morto tinha
em todas as esferas de sua vida. Revela também a desilusão de saber
que o amor não dura para sempre, nem mesmo nos poemas. Com isso,
nada mais lhe é desejável e todas as outras belas coisas (as estrelas, o sol, a lua
etc.)² agora podem deixar de existir.
Notas
¹ O gênero masculino no último verso da terceira estrofe é meramente uma escolha tradutológica.
² Seria a primeira grande coisa bela o seu ente?
______
¹ O gênero masculino no último verso da terceira estrofe é meramente uma escolha tradutológica.
² Seria a primeira grande coisa bela o seu ente?
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Reprodução permitida para
propósitos educacionais desde que citado o tradutor e este
blog. Veja o poema original em:
https://allpoetry.com/Funeral-Blues.
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