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Mostrando postagens de abril, 2018

Blues Fúnebre, de W. H. Auden (1907-1973)

Desliguem o telefone, parem todos os relógios, Previnam o cachorro de latir com suculentos ossos, Silenciem os pianos e com tambores abafados Tragam o caixão, façam entrar os enlutados. Deixem os aviões circularem ao alto com choro Rabiscando no céu “Ele está Morto”. Nas pombas fúnebres ponham gravatas em seus pescoços brancos, Luvas pretas de algodão deixem usar os policiais de trânsito. Ele era meu Norte, meu Sul, meu Leste e Oeste, Minha semana de trabalho e meu domingo cipreste, Meu meio-dia, minha meia-noite, minha canção e meu diálogo; Eu pensava que o amor duraria para sempre: mas estava errado. As estrelas não são mais desejáveis; apaguem uma a uma; Desmanchem o sol, derrubem a lua, Sequem o oceano e devastem a floresta; Nada mais do que vier interessa. Neste poema de versos AABB, o locutor que não é identificado (gênero desconhecido¹) lamenta a morte de alguém muito amado (talvez um filho, um irmão, amigo ou companheiro). Um contr

“Quando minha mãe estava grávida”, Rupi Kaur

quando minha mãe estava grávida do seu segundo bebê eu tinha quatro anos eu apontei para sua barriga inchada confusa sobre como minha mãe tinha ficado tão grande em tão pouco tempo meu pai me pegou em seus braços robustos e disse que a coisa mais próxima de deus na terra é o corpo de uma mulher é de onde vem a vida e ter um homem maduro que me dissesse algo tão forte ainda tão jovem fez-me ver que o universo inteiro repousava aos pés da minha mãe – rupi kaur (tradução de wendell s.) Nota 1 : original retirado do livro milk and honey , publicado em 2015 pela Andrews McMeel.

Cântico I – De apresentação

Vigia enquanto existe dia Pois a noite a mim pertence Vigia enquanto existe Hinom Pois o verme corre pela minha mão Eu sou a noite e o vapor da madrugada O canto do curiango e o rastejar do sátira A corrida da serpente e o clamor de Lilith Pelo calor de Samael na escuridão Eu sou, eu hei de ser A corda e o patíbulo O rito e o impelidor Quem me evoca pelo nome cairá prostrado ao chão

Presença notívaga

Ao término do jantar, recolhe a mesa deixando apenas o café e a garrafa para não dormir durante a noite (mas é provável que já tenha se tornado um vício para as noites assim como é tão provável que pegue no sono devido à longa jornada do dia). Diante de si, o computador e sua fiel companheira dormindo sob suas pernas para que se sinta protegida no calor dos seus pés. Ambos frágeis, indefesos, vulneráveis. Pratos empilhados, ora amontoados tão perfeitamente bem quanto sua mania de desorganização, na pia e livros de literatura e linguística pela casa formam o cenário perfeito ao lado de seu corpo quase nu e vesgo. Não sabe mais se fala a Deus e, mesmo assim, acende uma vela para Iemanjá, sem tocar o mar, por acreditar no poder acalentador da maternidade. E as portas nunca se abrem. As horas passam e o sono não chega (mas o café já perde seu sabor; passa outro) – a sobriedade o assusta, então se deita na esperança de que um dia poderá dormir em paz.