Ouve-se muito mal falar. A Senhora Braga não tem amor no coração, mas afirma que tem Deus. Mantém-se dentro de um casamento cansado por não ter outra opção nem mesmo para o marido, que a tolera desde que se conheceram na porta da capela, enquanto ambos deveriam estar atendendo à missa e honrando o nome da Santa Igreja.
Acorda cedo e faz café sem dar “bom dia”, cumprimenta os poucos vizinhos que persistem com os atos de cordialidade, rega as plantas do jardim mesmo em dias de chuva, assiste televisão em volume alto com as pernas esticadas e cercada pelos cães e gatos no ambiente escuro que luta contra a luz do dia. Dá goles de café e come uma bolacha. Ouve as notícias, não crê em nada. Seu rosto sem expressão além daquela de quem não tem sabor na vida. Coitada da Senhora Braga!
Fala contra todos. Todos falam contra ela. É uma guerra de palavreados que seu vilarejo supostamente não seria capaz de suportar, mas há de se concordar que é nas pequenas comunidades que a língua queima e a Senhora Braga faz o seu papel. Vai à igreja rezar. À noite, reclama das dores e vai manquejar na praça, sentar-se para olhar as outras vidas (mais saudáveis que a sua, diga-se de passagem). A certa altura, regressa para os seus aposentos e já não é mais procurada (faz anos!). Deita-se com a mesma expressão com a qual há de acordar. Não fará falta a Seu Zé Ninguém. No dia seguinte, não fez.
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