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A Senhora Braga

Ouve-se muito mal falar. A Senhora Braga não tem amor no coração, mas afirma que tem Deus. Mantém-se dentro de um casamento cansado por não ter outra opção nem mesmo para o marido, que a tolera desde que se conheceram na porta da capela, enquanto ambos deveriam estar atendendo à missa e honrando o nome da Santa Igreja.

Acorda cedo e faz café sem dar “bom dia”, cumprimenta os poucos vizinhos que persistem com os atos de cordialidade, rega as plantas do jardim mesmo em dias de chuva, assiste televisão em volume alto com as pernas esticadas e cercada pelos cães e gatos no ambiente escuro que luta contra a luz do dia. Dá goles de café e come uma bolacha. Ouve as notícias, não crê em nada. Seu rosto sem expressão além daquela de quem não tem sabor na vida. Coitada da Senhora Braga!

Fala contra todos. Todos falam contra ela. É uma guerra de palavreados que seu vilarejo supostamente não seria capaz de suportar, mas há de se concordar que é nas pequenas comunidades que a língua queima e a Senhora Braga faz o seu papel. Vai à igreja rezar. À noite, reclama das dores e vai manquejar na praça, sentar-se para olhar as outras vidas (mais saudáveis que a sua, diga-se de passagem). A certa altura, regressa para os seus aposentos e já não é mais procurada (faz anos!). Deita-se com a mesma expressão com a qual há de acordar. Não fará falta a Seu Zé Ninguém. No dia seguinte, não fez.

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Marabá: uma breve análise entre o poema e a vida de Gonçalves Dias

MARABÁ (Parênteses inseridos para esclarecimento de palavras e expressões) Eu vivo sozinha; ninguém me procura! Acaso feitura Não sou de Tupá? Se algum dentre os homens de mim não se esconde: – “ Tu és,” me responde, “ Tu és Marabá!” – Meus olhos são garços, são cor das safiras, – Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar; – Imitam as nuvens de um céu anilado, – As cores imitam das vagas do mar! Se algum dos guerreiros não foge a meus passos: “ Teus olhos são garços,” Respondo anojado, mas és Marabá: “ Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes, “ Uns olhos fulgentes, “ Bem pretos, retintos, não cor d’anajá ! ” (claros) – É alvo meu rosto da alvura dos lírios, – Da cor das areias batidas do mar; – As aves mais brancas, as conchas mais puras – Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. – Se ainda me escuta meus agros delírios: – “ És alva de lírios”, Sorrindo responde, mas és Marabá: “ Quero antes um rosto de jambo corado,

Analisando o discurso do poema "Eu", de Álvaro de Campos

"Fernando Pessoa" por S.A. e Maria José de Lencastre. Antes de tudo: Análise do Discurso é “[…] o estudo da língua sob a perspectiva discursiva” (BRANDÃO, 2009, p. 5). Para Foucault (1972 apud FAIRCLOUGH, 2001, p. 64), “a análise do discurso [está] voltada para a análise de enunciados”, que é considerada uma forma de analisar desempenhos verbais e “diz respeito não à especificação das frases que são possíveis ou gramaticais, mas à especificação sociohistoricamente variável de formações discursivas (algumas vezes referidas como discursos), sistemas de regras que tornam possível a ocorrência de certos enunciados, e não outros, em determinados tempos, lugares e localizações institucionais.” (colchetes inseridos)

Quais são as características de um texto literário?

Com a honrosa coautoria de: Ermírio Simões Batista Segundo Proença Filho (2007), em sua obra A linguagem literária , as características do discurso literário são as seguintes: 1. Complexidade Num texto complexo pode-se identificar metonímias sobre a vida humana. No caso, seriam situações que ocorrem nas relações interpessoais. Assim observa-se uma série de fatores que contribuem para o enriquecimento do texto e o aumento de plurissignificação, exigindo maior esforço por parte do leitor. No texto literário não existe o óbvio. me.to.ní.mi.a s.f. [retórica] Figura de linguagem em que um objeto é designado por uma palavra que se refere a outro, por existir uma relação entre os dois. Quando se “acende a luz”, na verdade se aperta um botão, fechando um circuito elétrico e produzindo luz. Mas se dá o nome do efeito à causa. (7GRAUS, 2017, adaptado) 2. Multissignificação O texto multissignificativo depreende diversos significados que dependerá do