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Quasímodo era feliz

Por: Wendell O’Hyah
Ilha de Itamaracá – PE, 1º de maio de 2016
 
“Quasímodo” era o nome mais feio que o próprio Quasímodo conhecia. O que lhe consolava era saber que este era um nome, graças a um certo corcunda de Notre Dame, famoso na Literatura Universal. Vez por outra, também se achava feio. Depois, achava bonito e, assim, vivia como um pêndulo entre o belo e o grotesco. Certo dia, Quasímodo descobriu que era lindo, por dentro.

Quasímodo era a intercontextualidade de sua própria existência com a coexistência plena da Literatura. Às vezes, vivia por Victor Hugo, outras por Gonçalves Dias. Publicou uma nota no Gazeta de São Paulo para falar de seu estado civil. Recebeu dezenas de cartas de mulheres solteiras de meia idade que buscavam um homem maduro para se casar. Não casou com nenhuma, sua aparência, seu lado grotesco, falara mais alto que as suas palavras, seu lado belo. Mestiçagem de encanto e arrepio.

Foi morar em Recife. Conheceu Margareth, drogada e prostituída. Roubou-lhe metade do dinheiro que mantinha em casa. A outra metade foi o pagamento pelo serviço. O grotesco nunca falara tão alto para ele mesmo. Sentiu-se pena e foi dormir ouvindo blues: “Rapariga!”

Quando a primavera chegou, encheu-se de estupenda inspiração que emanava no lado de dentro e se espalhava pelo de fora. Sentiu que era mais feliz assim e que sua beleza era diminuta com relação a isso. No inverno, adoeceu. Morreu sozinho, mas morreu feliz. Quasímodo morreu por Assis.

P.S.: Sob inspiração dos escarros e dos escárnios.

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MARABÁ (Parênteses inseridos para esclarecimento de palavras e expressões) Eu vivo sozinha; ninguém me procura! Acaso feitura Não sou de Tupá? Se algum dentre os homens de mim não se esconde: – “ Tu és,” me responde, “ Tu és Marabá!” – Meus olhos são garços, são cor das safiras, – Têm luz das estrelas, têm meigo brilhar; – Imitam as nuvens de um céu anilado, – As cores imitam das vagas do mar! Se algum dos guerreiros não foge a meus passos: “ Teus olhos são garços,” Respondo anojado, mas és Marabá: “ Quero antes uns olhos bem pretos, luzentes, “ Uns olhos fulgentes, “ Bem pretos, retintos, não cor d’anajá ! ” (claros) – É alvo meu rosto da alvura dos lírios, – Da cor das areias batidas do mar; – As aves mais brancas, as conchas mais puras – Não têm mais alvura, não têm mais brilhar. – Se ainda me escuta meus agros delírios: – “ És alva de lírios”, Sorrindo responde, mas és Marabá: “ Quero antes um rosto de jambo corado,

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"Fernando Pessoa" por S.A. e Maria José de Lencastre. Antes de tudo: Análise do Discurso é “[…] o estudo da língua sob a perspectiva discursiva” (BRANDÃO, 2009, p. 5). Para Foucault (1972 apud FAIRCLOUGH, 2001, p. 64), “a análise do discurso [está] voltada para a análise de enunciados”, que é considerada uma forma de analisar desempenhos verbais e “diz respeito não à especificação das frases que são possíveis ou gramaticais, mas à especificação sociohistoricamente variável de formações discursivas (algumas vezes referidas como discursos), sistemas de regras que tornam possível a ocorrência de certos enunciados, e não outros, em determinados tempos, lugares e localizações institucionais.” (colchetes inseridos)

Quais são as características de um texto literário?

Com a honrosa coautoria de: Ermírio Simões Batista Segundo Proença Filho (2007), em sua obra A linguagem literária , as características do discurso literário são as seguintes: 1. Complexidade Num texto complexo pode-se identificar metonímias sobre a vida humana. No caso, seriam situações que ocorrem nas relações interpessoais. Assim observa-se uma série de fatores que contribuem para o enriquecimento do texto e o aumento de plurissignificação, exigindo maior esforço por parte do leitor. No texto literário não existe o óbvio. me.to.ní.mi.a s.f. [retórica] Figura de linguagem em que um objeto é designado por uma palavra que se refere a outro, por existir uma relação entre os dois. Quando se “acende a luz”, na verdade se aperta um botão, fechando um circuito elétrico e produzindo luz. Mas se dá o nome do efeito à causa. (7GRAUS, 2017, adaptado) 2. Multissignificação O texto multissignificativo depreende diversos significados que dependerá do