Por: Wendell O’Hyah
Ilha de Itamaracá – PE, 1º de maio de 2016
“Quasímodo” era o nome mais feio que o próprio Quasímodo conhecia. O que lhe consolava era saber que este era um nome, graças a um certo corcunda de Notre Dame, famoso na Literatura Universal. Vez por outra, também se achava feio. Depois, achava bonito e, assim, vivia como um pêndulo entre o belo e o grotesco. Certo dia, Quasímodo descobriu que era lindo, por dentro.
Quasímodo era a intercontextualidade de sua própria existência com a coexistência plena da Literatura. Às vezes, vivia por Victor Hugo, outras por Gonçalves Dias. Publicou uma nota no Gazeta de São Paulo para falar de seu estado civil. Recebeu dezenas de cartas de mulheres solteiras de meia idade que buscavam um homem maduro para se casar. Não casou com nenhuma, sua aparência, seu lado grotesco, falara mais alto que as suas palavras, seu lado belo. Mestiçagem de encanto e arrepio.
Foi morar em Recife. Conheceu Margareth, drogada e prostituída. Roubou-lhe metade do dinheiro que mantinha em casa. A outra metade foi o pagamento pelo serviço. O grotesco nunca falara tão alto para ele mesmo. Sentiu-se pena e foi dormir ouvindo blues: “Rapariga!”
Quando a primavera chegou, encheu-se de estupenda inspiração que emanava no lado de dentro e se espalhava pelo de fora. Sentiu que era mais feliz assim e que sua beleza era diminuta com relação a isso. No inverno, adoeceu. Morreu sozinho, mas morreu feliz. Quasímodo morreu por Assis.
P.S.: Sob inspiração dos escarros e dos escárnios.
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