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TIC na educação, por que usar?

No fim do primeiro trimestre deste ano, minhas colegas de pesquisa Dhyanna Lays Ramos Neves e Thayná Deivilla Mendes da Rocha Silva e eu apresentamos, no XIII Congresso de Iniciação Científica promovido pelo Núcleo de Pesquisa e Iniciação Científica – NUPIC da Faculdade Frassinetti do Recife – FAFIRE, uma pesquisa de um ano sob orientação da incrível Prof.ª Mestra Márcia Modesto, a saber Google Apps for Education e outros apps na sala de aula de inglês, aprovada pelo NUPIC e desenvolvida junto ao mesmo. O objetivo da pesquisa era mostrar que o uso dos Google Apps for Education e alguns outros apps possuem alto potencial de uso em sala de aula como ferramentas adicionais ao aprendizado de língua inglesa. O que segue é um resumo de nossa pesquisa.

A pesquisa não nasceu do desejo de implementação do uso das TIC na sala de aula de inglês, pois este já é um incentivo dos PCN desde a década de 1990, mas do interesse em querer saber por quê das comunidades escolares ainda não serem usuárias propriamente ditas da internet e outras TIC. Daí, viemos a conhecer o Google Apps for Education (doravante GAFE), que, como o título já indica, é um incentivo ao uso de TIC na educação.

O GAFE trata-se de um projeto da multinacional Google Inc. que tem por objetivo promover uma educação inovadora com o auxílio de tecnologias da informação e comunicação (TIC) em diversas áreas do conhecimento. Uma vez que o ensino de língua inglesa permite o exercício da prática interdisciplinar, podemos afirmar que quase todos os aplicativos desenvolvidos possuem alto potencial de uso na sala de aula de inglês. Por outro lado, faz-se necessário considerar os casos isolados e não julgar um app apropriado para todas as escolas a partir do sucesso de apenas uma unidade de ensino.

A necessidade de uso das TIC na sala de aula se dá não apenas pelo fato de que elas podem ser ferramentas úteis ao aprendizado de língua inglesa, mas pelo fato de que a tecnologia representa uma concorrente da atenção do discente. Os que lecionam sabem que não raro nos deparamos com alunos conectados com o mundo externo envolvidos em assuntos completamente diferentes daquilo que o professor está a ministrar. Assim, apropriar-se desses meios eletrônicos de comunicação e de produção representa uma saída na qual a concorrente (as TIC) torna-se uma aliada. (SASSAKI, NOVA ESCOLA/SP, 08/12/2015; v. também: ALLAN, EDUCAR PARA CRESCER/SP, 16/03/2009; DUDENY & HOCKLY, 2007; MAZZOCO, NOVA ESCOLA/SP, 03/2015)

As TIC na sala de aula. Um dos programas mais convidativos do projeto GAFE é o Google Classroom (“Google Sala de Aula”), no qual o professor, ou gestão escolar, pode criar turmas, adicionar alunos, emitir exercícios com prazo para entrega e, ainda, manter contato com o aluno, entre outras funcionalidades oferecidas pelo aplicativo para dispositivos móveis e PC. Como já dito, a língua inglesa permite o exercício da prática interdisciplinar, que Paiva & Lovato (2005) consideram como uma forma de “ousadia”. Todos os aplicativos permitem bastante uso da criatividade na preparação das aulas. Além da GAFE, outras empresas também investem em aplicativos voltados para a comunicação e produção, como a The Document Foundation, que desenvolveu a suíte LibreOffice, alternativa gratuita ao Microsoft Office e livre para modificações e distribuição. O Kernel Linux atualmente possui diversas versões, das quais o Ubuntu já tem grande destaque pela interface intuitiva de fácil manuseio, além de ser a melhor alternativa ao SO Windows. Inclusive, o Linux Ubuntu já está presente em dispositivos móveis.

Os apps. A pesquisa teve acesso à centenas de aplicativos, mas, mais do que reconhecer suas finalidades pedagógicas, observou-se sua relevância na prática de ensino, pois, notamos, nem tudo o que é feito teoricamente para a educação possui real potencial de uso na escola. Conforme nos foi explicado por um especialista em desenvolvimento de softwares formado pela UFPE, Felipe Britto, o processo de desenvolvimento de tais aplicativos nem sempre vem acompanhado por um profissional que conheça bem as reais necessidades da escola, o professor. Assim como cabe aos especialistas de TIC na Educação estudar os casos (as escolas) isoladamente, cabe ao professor decidir quais aplicativos deverá utilizar nesta ou naquela turma, pois não adianta aderir a esta prática se ela não será capaz de suprir as necessidades de todo o universo escolar.

Como usar. O uso deve ser moderado, respeitando-se as idades dos alunos. Quanto ao uso agregado ao ensino de língua inglesa, Leventhal (2009) o sugere a partir do nível pré-intermediário, uma vez que, nesta fase, o aluno já detém certo conhecimento da língua. É importante que o professor tenha algum conhecimento sobre as TIC, pois deve primeiramente apropriar-se deste conhecimento antes de compartilhá-los com os seus alunos. Todavia, jamais deverá se refrear ao notar que pode aprender com o discente. Álvarez Méndez (2002) defende que os conhecimentos prévios dos alunos devem ser explorados pelo professor, o que levará o discente a se sentir útil, pois produtivo na escola. Uma vez que os resultados obtidos a partir do uso de uma ferramenta forem positivos, isto significa que este aplicativo teve certo potencial de uso em sala de aula. Caso contrário, ele poderá ser descartado.

Desafios. É claro que os desafios aparecerão. Os casos mais comuns são: (1) A falta de formação continuada do professor, mas isto Álvarez Méndez (Id.) já esclareceu que não há constrangimento em aprendermos com os nossos alunos, mas que nossas atividades e avaliações devem estar a serviço deles. (2) A falta de estrutura adequada nas escolas também é preocupante, mas se tivermos em mente o universo que se concentra na palma da mão através dos tablets e smartphones, compreenderemos que notáveis pesquisas podem ser feitas a partir da internet e muito pode ser produzido por meio do uso de aplicativos on e off-line. (3) Quando a escola não possui recursos para investir em novas tecnologias, ela poderá repensar o uso de programas de computador gratuitos e de código livre, podendo aumentar o número de computadores na escola e, ainda assim, garantir a qualidade do ensino, pois satisfazer as necessidades dos alunos.

Resultados. Grande parte da pesquisa GAFE foi realizada por meio de pesquisas na internet; na maioria das vezes, utilizou-se de recursos gratuitos, como o LibreOffice, Google Docs e Google Slides, para produzir textos e apresentações de slides com a qualidade profissional que os recursos pagos também oferecem. Notamos que, assim como alertou Allan (EDUCAR PARA CRESCER/SP, 16/03/2009), “É fundamental que as instituições de ensino, e em especial os professores, fomentem um uso mais elaborado da internet”, pois não podemos confiar em todo o material internético que aparecem nos resultados de uma pesquisa (google.com, etc.). Se uma pesquisa de caráter científico se tornou possível através do uso das TIC propostas, muito mais proveito pode tirar professores e alunos que estão em busca da universalização do conhecimento, do acesso à tecnologia e da efetivação da prática da cidadania, pois promover o aprendizado de uma língua significa quebrar barreiras transmundiais diariamente.

Considerações finais. Os aplicativos para Android, iOS (Apple, menos provável) e Windows analisados ao longo da pesquisa mostraram-se bastante eficazes, comprovando, assim, que uma educação inovadora pode ser promovida mesmo em comunidades escolares menos favorecidas. Como já dito, a usabilidade destes apps e demais alternativas gratuitas a programas para computadores deve ser considerada tendo como referência a realidade e as necessidades de cada escola, mas jamais deve desfavorecer a promoção da eficiência em educação ou a universalização do acesso à tecnologia. A aversão (às vezes, involuntária) dos professores ao uso das TIC não diz respeito necessariamente à negação da excelência em educação, mas apenas à apreensão quanto ao uso daquilo para qual ainda não têm formação continuada suficiente. Desse modo, notamos que cem por cento dos professores das cinco escolas da rede pública de ensino do Grande Recife dispuseram-se tanto a ensinar como também aprender coisas novas e compartilhar estas experiências com os seus alunos.

Ao fim da pesquisa, percebemos que um ano não fora o suficiente para satisfazer todos os nossos desejos enquanto futuros professores comprometidos com a educação e engajados com a tecnologia na sala de aula. Encontramos, nas escolas, docentes inspiradores que nos fizeram sentir a necessidade de retornar aos livros e campo de pesquisa e expandir ainda mais os conhecimentos acerca da temática abordada. É por isso que a pesquisa Google Apps for Education e outros apps na sala de aula de inglês pretende continuar presente nas escolas, sentindo de perto a realidade dos nossos professores e dos nossos alunos, até que possa se dar por realizada a utopia de um acesso universal à tecnologia na educação.
Thayná, Prof.ª Márcia, eu e Dhyanna.


REFERÊNCIAS

ALLAN, Luciana Maria. O papel da internet no futuro da educação. EDUCAR PARA CRESCER/SP, 16/03/2009. Disponível em: <http://educarparacrescer.abril.com.br/comportamento/internet-futuro-educacao428536.shtml>. Acesso em: 22 dez. 2015, às 04:57.
DUDENEY, Gavin; HOCKLY, Nicky. Technology in the classroom. In: How to teach English with technology. Harlow (Inglaterra): Pearson, 2007.
LEVENTHAL, Lilian Itzicovitch. Recursos na Internet. In: Inglês é Teen!: para professores de fundamental II e ensino médio. Barueri, SP: Disal, 2009.
LOPES, Noemia. O que é Projeto Político Pedagógico (PPP). GESTÃO ESCOLAR, Edição 011, DEZEMBRO 2010/JANEIRO 2011. Título original: PPP na prática. Disponível em: <http://gestaoescolar.abril.com.br/aprendizagem/projeto-politico-pedagogico-ppp-pratica610995.shtml>. Acesso em: 27 dez. 2015, às 05:10.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Gêneros Textuais Emergentes no Contexto da Tecnologia Digital. 50ª Reunião do GEL – Grupo de Estudos Linguísticos do Estado de São Paulo. São Paulo: USP, 2002.
MAZZOCO, Bruno. Um guia para escolher melhor. NOVA ESCOLA/SP, 03/2015. Disponível em: <http://revistaescola.abril.com.br/formacao/tecnologia-guia-escolher-bem-ticrecurso-digital872300.shtml>. Acesso em: 23 jun. 2015, às 02:57.

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