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Avaliar para conhecer, examinar para excluir

ÁLVAREZ MENDÉZ, J. M. Aprender com os erros e aprender com as perguntas: sugestões para a ação reflexiva e crítica. In: Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Trad. Magda Schwartzhaupt Chaves. Porto Alegre: Artmed, 2002.

Álvarez Méndez (2002), em seu livro Avaliar para conhecer, examinar para excluir, no capítulo Aprender com os erros e aprender com as perguntas: sugestões para a ação reflexiva e crítica, afirma que a avaliação deve ser a oportunidade de demonstrar o que os alunos aprenderam e o que podem melhorar. Contudo, é importante salientar a qualidade da informação que é transmitida na correção; o aluno precisará ter real noção de onde se situa no processo de aprendizagem. Se o professor não fornece as necessárias informações ou não as escreve de maneira inteligível, correrá o risco de instaurar “a arbitrariedade no exercício abusivo do poder e na funcionalidade didática.” (p. 114)

O professor desempenhará a função formativa se investir o conhecimento em melhorias de práticas de ensino e aprendizagem dos alunos. Desconsiderar esta função acarretará em não contribuir para a formação dos sujeitos envolvidos (aluno e professor). O autor retoma a importância de informar aos alunos tudo o que lhes corresponde para que os afete positivamente em busca de melhorias de aprendizado. Contudo, deve-se evitar o uso e o abuso do poder irracional, mas empenhar-se por um exercício ético e justo. A avaliação e a informação dada pelo aluno devem levar o docente a compreender o ponto de vista do aluno e considerá-lo ao tomar decisões.

Não se deve penalizar o aluno por comprometer o pensamento/raciocínio do aluno por exigir respostar formadas evitando que ele se expresse, mas fortalecer o seu potencial intelectual. A correção (e reflexão), neste caso, servirá para indicar o caminho adequado para reelaborar uma resposta contextualizada ao que fora posto em sala de aula, ou seja, chegar onde a disciplina naquele momento requer. Objetividade não garante o exercício da “verdade” ou da “justiça”, ao contrário, a subjetividade pode ser considerada o “resultado acordado de uma comunidade crítica, em que o desacordo justificado e bem-argumentado é bem-vindo” (p. 116) A obra destaca a contribuição da avaliação participativa no desenvolvimento de qualidades morais e pessoais positivas.

Ainda na mesma obra, mas em um outro capítulo, o autor faz alusão às perguntas no desenvolvimento do pensamento. No capítulo em consideração, item A importância das perguntas: sugestões para a ação reflexiva (p. 117), Álvarez Méndez retoma esta alusão indicando que os exames consistem basicamente em perguntas e respostas. Mas não adianta fazer qualquer tipo de pergunta, pois é preciso “recuperar o valor formativo dos exames” através de perguntas inteligentes. (Ibid.) Saber o quê e quando perguntar é essencial na promoção do desafio do pensamento com o propósito de ir além do “imediatismo do exame” (Ibid.). Além disso, precisa-se de prudência na elaboração destas perguntas: Qual o valor significativo do conteúdo desta pergunta? Perguntas inteligentes são a essência da arte do ensino. E cita Kamii (1979, p. 55 apud ÁLVAREZ MÉNDES, 2002) quando diz que formular boas perguntas instigam o estudante a avançar para “os níveis mais altos do pensamento”.

Como suporte sobre que perguntas valem a pena serem respondidas ou não, o autor dá, pelo menos, 34 sugestões que consideram perguntas como as que têm a mesma resposta entre os alunos, que possibilitam cópias mecânicas uns dos outros, que “exigem” respostas criativas e aquelas que estimulam o pensamento.

Segundo Álvarez Méndes, qualquer que seja a alternativa de avaliação, ela deve estar sempre a serviço do estudante; isso não significa baixar o nível qualitativo da avaliação. O docente também deve estar avaliando a sua própria “qualidade humana e intelectual” para assegurar a qualidade da aprendizagem. (p. 130)

Considerar os erros do aluno de maneira compreensiva e reflexiva (tanto para o professor quanto para o aluno) levará ambos a entender o caminho que fora traçado para se chegar à resposta concedida pelo discente. Não se trata de uma avaliação irrealística, mas positivista no sentido de que o exercício do pensamento sempre será estimulado até que aluno e professor atinjam o grau máximo de suas faculdades mentais. Em todo o capítulo aqui discutido, o autor destacou a importância da qualidade da avaliação. Não podemos sentenciar uma aprovação por uma grande quantidade de acertos ou uma reprovação pela grande quantidade de respostas que não foram as esperadas para a disciplina X ou Y. A aprendizagem surge a partir da efetivação do pensamento, da reflexão e reelaboração de respostas que, talvez não estivessem inteiramente inadequadas, mas que precisavam de certos reparos.
Wendell Batista dos Santos
Faculdade Frassinetti do Recife - 2015

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