Pirulito que bate-bate,
Pirulito que já bateu,
Sou gordinha mesmo e quem manda no meu corpo sou eu.
Por: Dilma Fernandes
Querida sociedade, meu nome é Dilma Fernandes. Bom, neste momento estou com pouco mais de 90 kg, meu manequim de calça é 46 e dependendo do modelo, assumo, tenho de recorrer ao 48. Blusas são geralmente G ou GG, tamanho de sutiã é XG e eu passei tempo demais tentando mudar isso porque o que as pessoas esperam é que você seja magra, sarada e aparentemente livre de qualquer grama de gordura. Mas quem foi que deu mesmo a sociedade ou as pessoas hipócritas que nos cercam este poder?
Passei anos de minha vida em dietas malucas, pulando refeições mesmo sabendo que isto não era aconselhável para tentar emagrecer, mesmo sabendo que isso é genético e explícito na parte materna de minha família. Acho que fiz tudo quanto é tipo de dieta que existe e me abdiquei de diversas coisas que eu gostava para tentar diminuir medidas, e, por mais irônico que pareça, eu apenas engordava mais e mais e cheguei ao limite. Esses hábitos começaram a influir em um problema de saúde, agravando-o, então querida/odiada sociedade, estou lhe informando que a partir deste momento esta gordinha não será mais uma pessoa correndo atrás de padrões. Caso futuramente eu deseje emagrecer, será por mim e não porque o meu quadril volumoso incomoda um saco de ossos que está se espremendo dentro de uma camiseta infantil, mesmo beirando os trinta.
Já faz alguns dias, mas hoje eu resolvi escancarar. E já fazia tempo que eu não me sentia tão confortável, não em uma roupa, mas em mim. É o mesmo que voltar para mim mesma depois de uma temporada fora. Eu sou linda como sou. Tenho meu jeito, meu estilo e sei me fazer perceber sem chamar atenção desnecessária.
Não é porque uma garota é gordinha que você pode ousar dizer a ela aquela máxima de que "Nossa, você tem um rosto lindo, só precisa emagrecer!", porque não é pelo fato de você não conseguir resguardar esta sua língua ferina dentro da boca que ela lhe dirá que você deveria cortar um pedaço da mesma para que ela caiba dentro da boca, assim como também não é necessário e nem mesmo aceitável que alguém com hábitos alimentares piores que os meus vire para mim e me diga que eu tenho que emagrecer para a minha saúde.
As pessoas que se acham no direito de criticar as roupas que uma gordinha usa não se dão ao trabalho de fazer uma básica pesquisa de preço antes de abrirem a porcaria de suas bocas. Aliás, se não se dão ao trabalho de abrir suas mentes antes de abrirem as bocas, não é muito de se estranhar que não saibam nada a respeito das nossas roupas, queridas gordinhas. Elas não fazem ideia de que sempre que há uma liquidação os nossos números não são incluídos porque é quase uma obrigação das gordinhas pagarem caro por suas roupas, assim também como não notam que as roupas que passam da numeração "normal" que vai até 44 sofrem um aumento de preço mínimo de 10%, ou também que é difícil para uma gordinha encontrar uma roupa descolada em lojas que deveriam ser feitas para nós. Somos jovens também, ou só existem gordinhas mais velhas? Opa, sou estranha mesmo, então.
Não costumo comer muito. Pelo contrário, posso passar mais de um dia sem me alimentar e não sentiria fome, mas como se não me bastasse a ansiedade associada e insonia que me fazem ter de usar remédios controlados para tentar estabilizar meu sono, tenho tendência a engordar e basta que eu fique nervosa para que minha fome vá embora, mas eu engorde de ansiedade. É algo estranho, mas segundo o endocrinologista, é o que acontece comigo.
Não, eu não vivo me entupindo e fast-food nem de besteiras, aliás isso preenche minha alimentação tão esporadicamente quanto que eu me permito olhar um homem nos olhos. Então, não são fatores de "gordices" que me fazem gordinha, então eu não devo satisfações a você, sociedade.
Estou me assumindo linda, assim, como eu sou. Gordinha, cheinha, fofinha, tudo no diminutivo porque não tenho mais que 1,61 m de altura.
E se há alguma gordinha lendo este texto, aceite-se assim como você é porque é assim que você é perfeita. Se fosse diferente, não seria você.
Você quer usar um vestido? Use.
Você quer usar shorts jeans, mas tem vergonha de suas pernas? Use mesmo assim. Você merece se sentir fresca e confortável mesmo que as pessoas queiram te criticar.
Vão ficar olhando para mim e me criticando "Querida, mesmo que fosse esquelética as pessoas te criticariam porque você estaria magra demais!"
Para as pessoas nada que você faça será bom o suficiente, você nunca será boa o suficiente, a menos que a pessoa te ame com todas as suas virtudes e seus defeitos, mas no fundo o que realmente importa é se você se ama como você está. Se você está em paz consigo mesma, porque, se está, o mundo que te cerca será apenas um monte de detalhes.
Bom, volto a repetir e em letras garrafais:
SOCIEDADE, EU SOU GORDINHA E SOU LINDA MESMO ASSIM. APENAS ACEITE.
Fonte: Publicado no blog Os Pensamentos da Amlid, com adaptações.
Referência
FERNANDES, Dilma. Gordinha e Linda. OS PENSAMENTOS DA AMLID/MG, 14/02/2015. Disponível em: <http://dilma-blgodilminhacombr.blogspot.com.br/2015/02/gordinha-e-linda.html>. Acesso em: 08 mai. 2015, às 02:55.
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